Sunday, January 13, 2008

Breath´in *


Eu não sei porquê resolvi fazer aquilo.
Todos estavam na marquise se protegendo.
Mesmo com a chuva ácida comum nas cidades grandes, queria senti-la, entrando pela minha roupa, escorregadia, esfriando um calor que só eu sentia. Ardia. Queimava.
O vento frio, e a chuva aliviavam meus sentidos.
Sorri bobamente, e os rapazes me olhavam com certa curiosidade. Cantarolava baixinho e balançava a cabeça devagar pendendo, para um lado e para o outro.
O ônibus chegou.
E senti novamente um calor pousar sobre mim. Foram aqueles olhos cor de mel.
Um cabelo castanho desgrenhado, um moleton. ..
Não disfarçou nem por um instante.
Sentei- me. Olhava pelo reflexo, mas ele não me achava, levantou, pediu o ponto e me fitou. Ainda faltavam duas quadras para eu descer.
Abri a janela para deixar a garoa respingar em mim.
Ele desceu. Fui atrás.
Sem assustá-lo envolvi meus pequenos braços por sua cintura. Grande, moreno claro.
Sem perceber, fui beijada em um instante com um abraço envolvente. Foram minutos que pareceram horas.
Aquela mão pousando no meu cabelo, na minha cintura... as sensações. O frio que arrepiava a espinha. O calor que aquecia a alma.
No meio de uma rua pouco iluminada. Quase cinza, como num filme dos anos 80.
Senti sua respiração vacilando no meu pescoço. Minhas mãos envolvendo-o sutilmente por dentro da blusa.
Aquela pele aveludada, sua barba raspando levemente no meu rosto. O perfume. Ele olhou no fundo dos meus olhos e me beijou novamente.
Como jamais fui beijada. Ele encontrou todos os meus desejos. Me segurou com força. Sentíamos nossos corações ritimados.
Minha perna entrelaçou na sua.

Outro ônibus chegou. O carro estava na oficina, havia quebrado.
Sem me despedir, corri e entrei. Precisava voltar, o noivo, a família inteira esperava para o jantar de anúncio do casamento.
Como eu chegaria assim? Meu vestido amarrotado. Minha pele rubra pelo calor que pulsava em cada veia. Meu cabelo entre nós.

E, quando cheguei, sorri ao saber que o meu futuro marido, sentado no sofá da sala, de cabelo arrumadinho, pela clara e olhos marrons era ainda assim, o homem da minha vida.
A estranha sensação entre o desejo, paixão e o verdadeiro amor tiveram significado absoluto.




* resolvi, re-postar esse texto porque é um dos meus favoritos e descobri que muita gente gosta dele = )